O trigo e o diabetes estão muito entrelaçados. Sob muitos aspectos, a história do trigo é também a história do diabetes. Onde existe trigo, existe diabetes. Onde existe diabetes, existe trigo. É um relacionamento tão íntimo quanto o da rede McDonald’s com os hambúrgueres. Contudo, foi só na Idade Moderna que o diabetes deixou de ser uma doença exclusiva de ricos ociosos para atingir todas as classes da sociedade. O diabetes tornou-se a Doença do Homem Comum. No Neolítico, quando os natufianos começaram a colher o trigo selvagem einkorn, o diabetes era praticamente desconhecido. Sem dúvida, ele também era desconhecido no Paleolítico, nos milhões de anos que precederam as ambições agrícolas dos natufianos do Neolítico. Os registros arqueológicos e as observações de sociedades de caçadores-coletores contemporâneos sugerem que os humanos quase nunca desenvolviam o diabetes, nem morriam de complicações diabéticas, antes que os grãos se tornassem presentes na dieta. Há evidências arqueológicas de que a adoção de grãos na dieta humana foi acompanhada do aumento no número de casos de infecções e doenças ósseas, como a osteoporose, de maior mortalidade infantil e de redução no tempo de vida, bem como do diabetes. O Papiro de Ebers, por exemplo, de 1534 a.C., descoberto na Necrópole de Tebas, no Egito, remontando ao período em que os egípcios incorporaram o trigo a sua dieta, descreve a excessiva produção de urina, característica do diabetes. O diabetes do adulto (tipo 2) foi descrito no século V a.C. pelo médico indiano Sushruta, que o chamou de madhumeha, ou “urina semelhante ao mel”, por causa de seu sabor doce (sim, ele diagnosticava o diabetes provando a urina) e da atração que a urina dos diabéticos exercia sobre formigas e moscas. Sushruta também, de modo premonitório, atribuía o diabetes à obesidade e à inatividade, recomendando tratamento com exercícios físicos. O médico grego Areteus deu a esse misterioso transtorno o nome de diabetes, que significa “urinar como um sifão”. Muitos séculos mais tarde, outro especialista em diagnósticos que provava a urina, o doutor Thomas Willis, acrescentou “mellitus”, cujo significado é “com sabor semelhante ao do mel”. Isso mesmo, produzir urina como um sifão, e urina doce como mel. Você nunca mais vai olhar do mesmo jeito para sua tia diabética.
Fonte: Livro Barriga de Trigo